Fiquei motivada a escrever este depoimento por uma série de fatores: a palestra recente na escola Ladybug sobre Letramento x Alfabetização, este vídeo imperdível (parte I e parte II) encontrado por meu marido e a recente e equivocada visão da Veja sobre escolas Sócio-Construtivistas.
Estudei quase a vida toda em escolas com ensino tradicional. Lembro até hoje que no antigo CA recebia trabalhos de casa até para o período de férias. Nunca esquecerei dos cadernos de caligrafia no qual repetia inúmeras vezes letras e palavras.
Cursei ensino fundamental e ginásio numa escola tradicional, religiosa, uma das que possui maior pontuação no Enem e aprovações no vestibular. Sim, tive uma “base boa” mas acredito que esta escola causou mais danos do que benefícios na minha vida.
Sempre fui criança criativa, adorava ler, escrever, dançar e desenhar. Até hoje estas continuam sendo grandes paixões na minha vida. No entanto, a instituição jamais estimulou esta criatividade. Pelo contrário, estas atividades eram vistas como perda de tempo, distração.
Se eu gostava da escola? Sim. Adorava quando minha mãe chegava com os livros novos, adorava aprender. Se eu era boa aluna? Durante muito tempo fui uma das melhores da turma.
No entanto meu dom nunca foi para área tecnológica ou biomédica. Nunca quis fazer medicina, engenharia ou até mesmo advocacia. O meu talento era visto na escola como algo inútil, sem valor. No segundo grau me rebelei: o melhor professor de história foi levado da turma de ciências humanas para tecnológica.E nós, como aula extra, tínhamos uma aula de artes com uma professora despreparada...afinal, turma de Ciências Humanas é para quem não quer nada com estudos.
Por sorte tive pais incríveis. Meu pai com 4 anos me fez sentir um Leonardo DaVinci, um Picasso. Valorizou meus desenhos e criatividade como ninguém! Eles me proporcionaram aulas de pintura, desenho, dança. Motivaram a leitura como algo divertido, assim como a escrita. O diálogo em casa era aberto. Sempre fui contestadora e era motivada a contestar, buscar informações.
Aos poucos, fui me tornando duas crianças : se em casa era líder, criativa, alegre, na escola era fechada, turrona, tímida.
O que teria acontecido, caso não tivesse tido apoio dos meus pais? Caso não tivesse morado num local onde passava grande parte do dia brincando, livre?
Fiz desenho industrial, depois marketing, sou apaixonada por marketing digital... Herdei do meu pai um dom para atendimento só reconhecido na fase adulta. Escolhi uma carreira que envolve criatividade, inovação e conhecer as pessoas. Aptidões nunca oferecidas nas escolas onde estudei.
Sim, passei no vestibular, pude escolher minha universidade, porém me pergunto até onde teria ido caso a escola tivesse estimulado minha criatividade. Teria sido ilustradora? Virado escritora? Artista? Teria alçado voôs ainda maiores na minha escolha profissional?
Quero que meu filho tenha o que não tive: estímulo para suas aptidões, sejam quais forem. Quero ver meu filho brincar, pintar, interagir, ter espaço, se soltar, criar, crescer!
Anamaria, mãe de aluno da Ladybug da turma Maternal I
2 comentários:
Amei! Simplesmente amei!
Estou nesse dilema agora. Meus filhos com 3 anos ficam tracejando letras e falam que árvores não podem ser azuis, ou roxas, ou voadoras...
Estou procurando uma escola para trocá-los antes que seja tarde.
Belo depoimento.
Bjos,
Calu
Concordo com vc, principalmente agora nesta fase tão infantil como o seu filho está.
Vc lê o blog da ombusmãe? adoro os posts dela sobre educação.
bjoka
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