Relato sobre a Feira de Troca de Brnquedos e nosso Dia das Crianças pela Psicóloga Adelaide Rezende de Souza1
O dia estava lindo na cidade maravilhosa, o sol nos brindava com sua luz e calor, e a sombra de belas árvores do Parque Chico Mendes, no bairro do Recreio, espalhamos cangas e tapetes emborrachados para a realização de nossa primeira feira de troca de brinquedos.
É importante destacar que provavelmente, não foi por acaso que a realização da feira foi em um parque que possui o nome de pessoa tão ilustre que tanto investiu na reordenação da posse de terras, defendendo a distribuição justa para os que não tinham.
Nesse sentido a troca de brinquedos foi uma “reordenação dos mesmos”, que saíram da posse de uma criança que já não brincava mais com ele e ganharam vida nova na mão de outra. Por outro lado, a criança que se desligou desse brinquedo que não brincava mais, trocou por outro que representasse novas possibilidades de imaginação.
Bem, voltando ao inicio da feira de brinquedos, todos estavam ansiosos: as profissionais da creche, as brinquedistas e todos os adultos que se propuseram a serem parceiros na realização do evento. Existia certa expectativa em relação a qual seria reação das crianças ao trocar seus brinquedos por outros brinquedos que se encontravam ali. Não sabíamos se seria fácil o desprendimento do brinquedo ao ver outra criança, seu parceiro ou não, brincando com um objeto que antes era seu.
Então organizamos assim: cada criança que chegava, mostrava o brinquedo que tinha trazido e o brinquedo recebia uma etiqueta com seu nome, e em seguida o brinquedo era colocado ao chão, em um grande emborrachado para exposição e troca.
Cada criança poderia pegar livremente o brinquedo que escolhesse para fazer a troca. Assim, chegaram às primeiras crianças, acompanhadas de seus familiares e as primeiras trocas começaram a ser realizadas.
Primeira troca realizada. Uma moto por um quebra-cabeças |
Crianças interagindo e brincando com os brinquedos trocados |
Inclusive, houve vários momentos “troca-troca”, ou seja, a criança que já tinha brincado com o primeiro brinquedo que havia escolhido, aproximava-se do tapete e trocava-o por outro. Estabelecendo assim um grande “troca-troca”, que evidenciou que possuir o brinquedo era menos importante do que experimenta-lo.
Então foi possível registrar algumas falas entre os momentos de trocas e brincadeiras das crianças para tentar investigar a opinião delas a respeito da feira e quais as razões que as levavam a escolher um brinquedo em detrimento do outro.
Realmente, o resultado foi muito surpreendente, e reafirmando para nós adultos a capacidade da criança de “virar as coisas do avesso”.
Como exemplo pode ser citada a fala de uma garotinha de 5 anos tentando justificar para sua avó a razão de ter escolhido uma boneca:
-Vó eu escolhi a Angelina,
porque ela estava triste e ninguém tinha escolhido ela.
O interessante dessa fala foi à preocupação com os sentimentos do objeto, pois na compreensão da
menina a boneca estava sendo rejeitada.
Da mesma forma tivemos também frases de contentamento em que a criança expressava alegria quando um dos brinquedos que tinha deixado no tapete havia sido escolhido por outra criança, principalmente quando era um amigo.
Outros diálogos demonstraram que para as crianças tudo representou uma grande brincadeira, como o diálogo de dois amigos da turma de 5 anos que falaram assim:
- Fui eu que te dei este!
- É, e eu te dei esse!
Sem conflitos ou atropelos a feira representou um grande encontro entre crianças e adultos que além de trocarem brinquedos, pintaram, construíram brinquedos de material reaproveitável, brincaram com brincadeiras tradicionais e acima de tudo, saíram felizes com suas trocas e com o momento de divertimento para todos.
Brinquedista ensinando a criança a montar novo brinquedo |
Professoras da Creche-escola Ladybug pintando com as crianças |
Durante a pintura em tecido que tinha como objetivo a produção coletiva da faixa da feira muitas crianças se divertiram pintando a faixa, mas, além disso, as crianças menores aproveitavam o momento pintando seus corpos, como mãos e braços, ficaram durante horas concentradas nessa atividade. As crianças maiores
ficaram muito curiosas durante a mistura das cores, momento em que as cores primárias eram transformadas em novas tonalidades.
Em outro local do parque as crianças podiam através do apoio dos brinquedistas construir novos brinquedos com material reaproveitável, muitas ficaram ali produzindo seus brinquedos ou experimentando os brinquedos que ali havia.
Também foi possível ampliar o universo lúdico de várias crianças apresentando brincadeiras com corda, elástico, bilboquê entre outros. Uma das crianças pediu a sua mãe, durante a feira para ganhar um elástico de presente, pois muito animada demonstrou como tinha conseguido aprender a pular com o brinquedo que até então não conhecia.
Crianças pulando corda |
As meninas ficaram encantadas com a brincadeira de pular elástico |
Inclusive, no final algumas crianças que não trouxeram brinquedos também puderam levar algum; e outros brinquedos que não foram escolhidos foram ofertados pelas crianças para os adultos que ali estavam.
Finalmente, é fundamental reafirmar a respeito da importância de realizar eventos como esse que demonstram para as crianças que nem sempre é necessário associar a compra de brinquedos, a possibilidade de brincar e se divertir.
1Psicóloga, Mestra em psicologia e especialista em Saúde Mental e Desenvolvimento Infantil e do Adolescente. Atualmente é professora titular do curso de Pedagogia da Universidade Estácio de Sá. Psicóloga - Creche Escola Ladybug. Pesquisadora do ILTC desde 2009 (Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência). Coordenadora do projeto Brinquedoteca: espaço de formação, pesquisa e extensão (UNESA). Coordena Oficinas de Atividades Lúdicas em escolas da rede municipal do RJ (projeto segundo turno cultural - Secretaria de Cultura/ILTC