A descoberta das sensações corporais
na infância
Por Adelaide Rezende de Souza
Quando a criançada começa a perguntar coisas como: O que é sexo?
Da onde eu vim? Para que serve a camisinha? Por que meu corpo é diferente do
seu? Como se faz um bebê? Os pais, em geral, são pegos de surpresa e buscam uma
saída para essas situações. Só que, na maioria das vezes, as soluções
encontradas não são as mais corretas, como, por exemplo, inventar a história da
cegonha que trouxe o bebê ou da sementinha que a mamãe comeu. Mas, ao contrário
do que o senso comum acredita, o assunto “sexo” não precisa ser tabu e pode ser
tratado com naturalidade. É importante para a formação dos filhos, que os pais
respeitem a curiosidade sobre o tema.
Meninos
e Meninas começam a pesquisar seus próprios corpos desde cedo e essa busca
deveria ser tratada com mais naturalidade, contudo nossa sociedade ainda
apresenta muitos mitos e tabus em relação a esse tema.
A medida que vão surgindo
comportamentos que indicam o desenvolvimento da sexualidade infantil muitas
dúvidas e receios aparecem nos pais. Afinal o mais importante é saber o que é
normal e o que representa um sinal de alarme. Um aspecto fundamental e que deve
ser esclarecido pelos adultos para as crianças é estabelecer uma clara
fronteira entre o que é íntimo e privado e o que é partilhado e público.
A normalidade da masturbação na
infância, por exemplo, ainda é muito difícil de ser aceita como algo saudável,
o medo dos adultos geralmente é associado ao pavor do vício que poderá por
alguma razão tornar o comportamento obsessivo e o toque passar a acontecer em
qualquer local. Esse medo aumenta principalmente quando o comportamento
masturbatório não se reduz com a passagem dos meses, aumentando assim a
preocupação dos pais, que na maioria das vezes não sabem o que fazer.
Vale
destacar aqui que a masturbação é um comportamento normal e deve ser encarado
como tal. Quando associado a um comportamento malévolo, as crianças podem achar
que é algo feio ou sujo, mesmo assim podem não deixar de fazê-lo, mas passar a
fazer escondido, aliás, eis ai a prova de que as crianças não têm nenhum
sentimento “impróprio”, quando se masturbam, muitas vezes o fazem na frente das
pessoas.
Os pais devem procurar respeitar e
evitar juízos de valor, pois quanto menos
ênfase se der ao assunto, mais depressa esta fase passará. Pelo contrário, se
fizerem um bicho de sete cabeças, pode até ser que a criança deixe de se
masturbar, mas pode influenciar negativamente no seu percurso normal da
sexualidade.
O
que deve estar claro é que remeter a sexualidade infantil e respectivos
comportamentos para o domínio da vergonha pode trazer consequências indesejáveis.
No entanto, é fundamental acompanhar e orientar essas descobertas, portanto, é
bom passar a mensagem de que há comportamentos que requerem intimidade e
privacidade.
O melhor caminho muitas vezes é através de
uma ou mais conversas a sós, após um curto período entre o episódio ocorrido,
explicar a criança que os órgãos genitais são sensíveis e que esfregá-los pode
causar dor ou lesão, e que assim como não se anda nú na rua ou até na praia,
também a manipulação dos órgãos genitais deve ser um assunto íntimo e que não
deve ter lugar na frente das outras pessoas.
A maioria de nós não teve nenhum
tipo de orientação sexual na infância, nem na escola ou na família, por isso é
importante não se sentir culpado em relação a não saber o que fazer, pois apesar
de inúmeras pesquisas evidenciarem que em países em que a educação sexual é
encarada como assunto sério nas escolas, em nossa sociedade ela ainda é
considerada como um tabu.
É
importante sempre estar aberto para um diálogo esclarecedor e sem punições,
pois se a criança não acha espaço para encontrar as
informações de que precisa, ela começa a buscar em outras fontes, e esse
aspecto não é desejável. É fundamental que uma criança sinta-se segura em
relação aos laços familiares.
Outro ponto importante sobre esse tema é quanto a questão
de gênero, pois muitos pais associam a escolha sexual da criança, a sua
preferência em relação a brinquedos e brincadeiras associados tradicionalmente
ao gênero oposto. Rodrigues (2003) destacou que:
As crianças que apresentam nas
suas brincadeiras condutas típicas do sexo oposto são motivos de preocupação
por parte dos adultos e a ideia de que elas se tornarão indivíduos com escolhas
sexuais diferenciadas, põe em causa os conceitos estabelecidos pela sociedade.
De fato, quando isto acontece, torna-se importante descortinar se estes
comportamentos são apenas exploratórios e passageiros, ou se refletem problemas
relacionados com o desenvolvimento da identidade de gênero da criança.
Mais
uma vez é fundamental que os adultos mantenha a calma e o diálogo, pois a
tensão e a repressão poderá causar o afastamento dos filhos, pelo medo e
provocar baixa autoestima nas crianças, e paradoxalmente a escolha sexual está
relacionada ao afeto e a identidade com o adulto através de uma relação baseada
no amor.
É
importante não projetar expectativas futuristas e viver uma relação presente
com compreensão e, é bom que os pais reflitam sobre o
que é realmente bom para o filho e o que deve ser deixado de lado.
Finalmente, é válido destacar que a repressão nunca é a
melhor maneira de educar, a proibição pode inclusive, estimular a criança a ir
de encontro com o que foi dito pelos pais como indesejado. O contato com o
próprio corpo faz parte da descoberta infantil e do aprendizado. É importante
que a criança, que deseja, tenha essa
experiência de conhecer a si mesma.
REFERENCIAS
BASILIO, Andressa. Conversa de sexo com
as crianças não precisa ser careta ou repressiva. Disponível em: (http://www.minhavida.com.br/familia/materias/12155-conversa-de-sexo-com-as-criancas-nao-precisa-ser-careta-ou-repressiva).
Acesso em: 23 de julho de 2014.
RODRIGUES,
Paula. Questões
de Gênero na Infância: Marcas de Identidade.
São Paulo: Piaget, 2003