Vale destacar que segundo a LDB :
Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental” (Lei 9394/96, artigo 31).
A avaliação não tem o objetivo de aprovar ou reprovar a criança. Ela representa um momento de trabalhar a auto-estima das crianças. Mostrar como elas avançaram. Uma criança precisa aprender sobre si mesma que ela é capaz; tem boas ideias, faz bons desenhos, conta boas histórias e pode contribuir com o mundo adulto oferecendo seu conhecimento já conquistado. Essa base segura favorecerá o movimento da criança na busca do conhecimento que é fundamental que seja assimilado por ela sempre como uma aventura cheia de prazer e novas possibilidades, inclusive em outros períodos da vida.
Um outro aspecto importante para pensar é que um processo avaliativo deve representar uma avaliação que não fique restrita apenas as crianças, mas que envolva todos os personagens ativos na tarefa de auxiliar a educação delas. Portanto, significa incluir a família e os educadores.
A inclusão desses dois personagens é fundamental, pois considerando que uma criança é um ser em desenvolvimento, sozinha ela não conseguirá conquistar com qualidade novas etapas, será necessário que ela esteja - “acompanhada” - ou seja - “estar em companhia” - significa ter um olhar atento de um adulto que auxilia e observa os progressos conquistados pela criança, seja na creche ou em casa.
Para que tal tarefa seja realizada, é necessário verificar as relações diárias da criança com o mundo e perceber suas conquistas oferecendo desafios que apresentem sentido aos seus questionamentos e hipóteses a partir de seus interesses. Portanto, a parceria da família com a instituição é fundamental.
Por esse motivo a avaliação não poderá se restringir apenas a criança, mas também exigirá uma reflexão da participação dos envolvidos durante esse processo.
Uma instituição infantil de qualidade deverá deixar claro para a família aspectos fundamentais relacionados a construção de sua proposta pedagógica: - Quais os objetivos da educação infantil? - Como é realizado o processo avaliativo? - Qual a criança que pretende ajudar a formar?
Mais uma vez é oportuno reafirmar que a educação infantil tem um fim em si mesma, não deve representar preparação para o ensino fundamental. Atualmente, vivemos em uma sociedade cada vez mais adultizada em que o tempo da infância corre o risco de deixar de existir – considero aqui infância como um conceito social necessário para criar possibilidades para que a criança possa vivenciar as necessidades especificas desse período da vida.
Para que a criança possa viver uma infância plena é fundamental garantir aspectos que a própria sociedade roubou da criança como por exemplo a redução, ou inexistência de espaço e tempo para a brincadeira livre e em grupo, aspectos importantes que provavelmente fizeram parte da infância de muitas pessoas adultas.
É importante garantir a possibilidade de oferecer as crianças “coisas de criança” para que possam expressar seus pensamentos e suas ações assimilando o mundo que vivem em doses gradativas e toleráveis, pois a pressa poderá representar ausência de determinados aspectos que serão necessários para as novas etapas.
Já existiu uma época em que crianças e adultos compartilhavam das mesmas atividades e tinham tarefas semelhantes, sem muita diferenciação. É essencial colocar atenção a esse aspecto, pois em um momento histórico com as características da nossa sociedade: tecnologia (internet, jogos eletrônicos), reorganização da família nuclear, falta de tempo para interações diárias, adulto e crianças tendo acesso as mesmas informações.
Existe o risco de termos crianças com suas infâncias roubadas, onde “coisa de criança” deixe de existir, fazendo com que elas sejam tratadas como miniaturas de adulto.
A educação infantil deve garantir além de outros aspectos que a criança seja tratada como criança e tenha direito do ócio para organizar suas ideias e testar suas hipóteses através da atividade principal da infância, a brincadeira.
A brincadeira irá garantir formas de expressão, assimilação do mundo real, desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo, criando possibilidades para que a criança tenha uma base segura que lhe possibilitará dar grandes saltos na direção de um equilíbrio emocional possibilitando um acesso de qualidade ao mundo em que vive.
Adelaide Rezende de Souza, Psicóloga na creche-escola Ladybug
Professora da Universidade Estácio de Sá, psicóloga (pela UFPA), especializada em saúde mental e desenvolvimento infantil e do adolescente (SCMRJ), com mestrado em psicologia e teoria do comportamento (UFPA) sua dissertação teve como título: “Resoluções de conflitos entre crianças através de brincadeiras de rua”. Ministra cursos sobre jogos e brinquedotecas. Consultora de instituições de educação infantil.
REFERÊNCIAS
ARROYO, M. G. O significado da Infância. Anais do simpósio de educação infantil.
Brasilia, MEC/SEF/DPE/CEDI, 1994: (88-92)
BORBA, A. M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. Texto publicado no documento da secretaria de educação do município do Rio de Janeiro, Ensino Fundamental de nove anos. Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade, 2006.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
MELLO, S. A. O processo de aquisição da escrita na educação infantil – contribuições de Vygotsky . In GOULART, A. L., de F. e MELLO, S. A. Linguagens Infantis outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.