De Fevereiro a abril, trabalhamos o projeto EU/Identidade , com o objetivo de estabelecer vínculos, construindo uma imagem positiva da criança sobre si mesma e sobre os outros que fazem parte do seu cotidiano: família, educadores, amigos, através do respeito e valorização das experiências e bagagens trazidas do seu ambiente. Além de fazer com que a criança se percebesse acolhida, sentindo- se segura no ambiente escolar.

Durante quatro meses nossos alunos foram estimulados, de forma lúdica, no seu desenvolvimento global, envolvendo-se e participando de atividades diversas, interagindo com o seu meio: social, emocional e cultural, estabelecendo relações e questionamentos, conforme conhecimento prévio de sua faixa etária.

Todo o projeto estabeleceu uma relação de crescimento horizontal e vertical, envolvendo profissionais de todas as áreas: Por exemplo, quando a criança estava trabalhando o seu nome , isto também era feito em : inglês, música, informática, nutrição, matemática, português, ciências... enfim, desse modo a criança tem a oportunidade de apropriar-se dos mais diversificados tipos de linguagem, expandindo, construindo e internalizando de modo independente o próprio aprendizado.

A partir de maio entramos em uma nova etapa, iniciamos nosso próximo quadrimestre com o projeto “ Bate Bola Literário “ levando a criança ao mundo encantado dos contos de fada, sonhos e fantasias. Onde também estão sendo trabalhados temas transversais como: pluralidade cultural, ética e valores.

No momento em que é dado à criança uma verdadeira oportunidade como esta de participar e envolver-se com o mundo literário...o desenvolvimento, atenção e percepção do todo,torna-se cada vez mais apurado, evoluindo naturalmente, para despertar o interesse pela leitura e escrita de modo crescente.

No mês de maio trabalhamos os contos de fadas e fábulas, com dramatizações, contação de histórias, utilizando diversos recursos, tais como: livros, dvds, fantoches, músicas, etc.

Dia 10 de maio começou o nosso projeto e nesse dia toda a escola estava enfeitada com o tema “ Contos de Fada”, e as crianças vieram com suas fantasias preferidas para participar da nossa encenação do conto da Cinderela, apresentado pela nossa equipe pedagógica.

Dia 11 aconteceu a nossa “Feira do Livro”, onde as crianças “ compraram” os livros para a sua turma. A partir daí, iniciou-se um mergulho intenso nesse mundo maravilhoso da literatura.

Agora em Junho, assim como o mundo, estaremos envolvidos com a Copa na África do Sul que também será trabalhada na literatura, juntamente com as poesias musicadas de Maria Mazzetti e Vinícius de Moraes.

Em Julho, depois do recesso, durante a nossa colônia de férias, vamos jogar muito futebol , e também praticar diversas modalidades esportivas nas nossas aulas de Psicomotricidade. Ainda aproveitando a copa na África, vamos ter a oportunidade de conhecer os países e continentes, através do atlas geográfico, as bandeiras dos países participantes com todas as suas cores e formas, os animais selvagens que vivem naquela região, etc.

Em nossas aulas de música, vamos conhecer os ritmos, sons e instrumentos africanos e em nossas atividades de educação alimentar, vamos experimentar algumas receitas e curiosidades!

Para finalizar em agosto vamos de : Monteiro Lobato, Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Mary França, entre outros, tão encantadores autores, que tanto contribuíram e ainda contribuem para o universo da literatura infantil.

Histórias diversas serão introduzidas, trabalhadas em todos os níveis, assim como os jogos infantis, cantigas de roda, atividades de expressão artística... enfim... Aguardem! E acompanhem aqui esta explosão de aprendizado em nossos pequenos!


A Educação Infantil constitui uma experiência necessária de socialização para a criança. As brincadeiras e jogos estimulam o relacionamento com o mundo a sua volta, adquirindo e testando novos conhecimentos, representando situações do seu cotidiano, expressando seus sentimentos e suas fantasias.

O ingresso das crianças nas instituições pode criar ansiedade tanto para elas e para seus pais como para os professores. É o seu primeiro contato com um grupo de pessoas diferentes das de sua família. Por isso, é comum que a criança chore em seus primeiros dias de aula, pois, sente com mais intensidade a separação de seus pais, experimentando um sentimento de abandono e angústia.

As reações podem variar muito, tanto em relação às manifestações emocionais quanto ao tempo necessário para se efetivar o processo. Em geral, o período de adaptação durará aproximadamente uma semana, podendo em alguns casos, ser maior ou menor.

Algumas crianças podem apresentar comportamentos diferentes daqueles que normalmente revelam em seu ambiente familiar, como alterações de apetite; retorno às fases anteriores do desenvolvimento (voltar a urinar ou evacuar na roupa, por exemplo). Podem também, adoecer; isolar-se dos demais e criar dependência de um brinquedo, da chupeta ou de um paninho.

É natural que a criança manifeste uma certa dificuladade em se separar da mãe (ou pai), quanto menor for, maior a dificulade. A tranquilidade e a segurança dos pais favorecem a separação transitória. Portanto , eles devem estar tranquilos de que a decisão tomada foi correta.

Há mães que não chegam a chorar, mas seus olhos imploram “ filho, fique comigo”, embora as palavras o incentivem a ir com a professora . . é frequente que no período da adaptação as crianças chorem na presença da mãe, resistindo a entrar na escola, mas uma vez dentro dela, mudam completamente e ficam felizes ao lado dos colequinhas em pouco tempo.

Os pais devem preparar a ida para a escola com observações como: você vai brincar, fazer coisas que não faz em casa, fazer novos amiguinhos, pintar, ir ao parquinho, etc. Depois você conta tudo pra mamãe (ou pro papai).“ Quando a criança sabe que poderá contar tudo aos pais, sente-se mais segura, forte e participativa. Os pais devem demonstrar interesse e ouvir atentamente. É a maneira de estarem presentes, mesmo ausentes.

É importante, nos primeiros dias, e até quando se fizer necessário, a presença da mãe, pai ou de alguém de confiança da criança para que ela possa enfrentar o novo ambiente junto de alguém com quem se sinta segura. Somente quando tiver estabelecido um vínculo afetivo com o professor e com as outras crianças, é que ela poderá enfrentar bem a separação, sendo capaz de se despedir da pessoa querida, com segurança e desprendimento.

Os pais podem encontrar dificuldades de tempo para viver este processo por não poderem se ausentar muitos dias no trabalho. Neste caso, seria importante que pudessem estar presentes, ao menos no primeiro dia, e que depois pudessem ser substituídos por alguém da confiança da criança.

Fonte:
Referencial Curricular Nacional / Educação infantil
Trechos do livro :Quem ama educa! (formando cidadãos éticos) Içaimtiba



Quantos pais vivem frequentemente angústias diante da recusa das crianças de se alimentar, principalmente, durante as refeições principais, diante de um prato de comida? Quais os fatores que prejudicam e que condicionam as crianças a recusarem alimentos essenciais a sua saúde? Com relação a esse assunto, vamos conversar sobre a construção de hábitos e como nossas atitudes influenciam e interferem na construção do paladar da criança.

Para começar cabe fazer a seguinte pergunta: Qual o papel de um centro de educação infantil com relação a qualidade da alimentação de uma criança? Quais os limites de interferência de uma creche durante esse processo?

Essas são questões primordiais que se consolidam em muitas dúvidas durante o processo de construção de hábitos alimentares na infância.

O Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil destaca entre outros assuntos o cuidar e o educar como ações indissociáveis, e as atitudes que correspondem a esses aspectos não devem ser pensadas separadamente, ou seja, contemplar o cuidado na esfera da instituição da educação infantil significa compreendê-lo como parte integrante da educação”. p.24 (Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de educação Fundamental, 1998).

Focando especificamente para o nosso tema devemos lembrar que ao oferecermos alimentos a uma criança, estamos oferecendo conjuntamente, valores, hábitos, crenças e tradições que falam de nós mesmos e de nossas formas de se alimentar.

O homem, ao contrário dos outros animais, não come somente para matar a fome. Come para estar com amigos. Para festejar, fechar negócios, despedir-se. O homem come para cultuar. A comida tem um significado social. (PIOTTO, FERREIRA, PANTONI, 2002, P.126)

Portanto, alimentar envolve tradições como: por a mesa, compartilhar, degustar, trocar ideias e admirar a qualidade dos alimentos que ali estão. Isso envolve tempo e disponibilidade para compartilhar esses momentos na companhia das crianças. Em uma relação de igualdade onde os alimentos sejam para todos, sem distinção de adultos e crianças.

A criança precisa sentir-se dentro de um contexto alimentar onde ela não precisa ser a atenção principal, mas uma companhia adequada para estar com os pais vivendo um momento agradável. Porém, novamente como destacado por PIOTTO, FERREIRA, PANTONI ( 2002) “Logo a criança descobre que comer é uma maneira de se relacionar com os outros. E não comer faz parte disso.” p.126

Além desse aspecto para complicar mais as coisas todos sabemos a corrida diária que enfrentamos na luta pela sobrevivência, e que na maioria das famílias é impossível manter esse modelo ideal de rotina alimentar com as crianças, apesar de sabermos que sempre que possível é importante valorizar esses rituais.

O trabalho da creche entra nesse momento representando um contexto social mais amplo, onde a criança poderá ter acesso a diversos alimentos com formas, sabores, texturas e cores, elaborados por uma equipe multidisciplinar composta de nutricionista e educadora.


Nesse ambiente a criança poderá cheirar, pegar, sentir a comida, com uma certa liberdade que em sua residência fica mais difícil; além de estar exposta ao aprendizado coletivo, pois na companhia de outras crianças poderão, muitas vezes comer mais do que se alimentam normalmente sozinhos e na companhia apenas de adultos.

Contudo, para que essa troca seja saudável é necessária a ajuda de todos os envolvidos. A creche participa com as orientações que possam se adequar a maioria. E as famílias das crianças com o respeito aos acordos alimentares estabelecidos pela instituição.

É difícil conciliar os horários restritos, a busca de alimentos saudáveis e de qualidade que estejam de acordo com os nossos hábitos alimentares, porém, é inaceitável não olhar para este assunto com atenção e comprometimento, pois em um espaço coletivo nossas atitudes influenciam não só na vida de nossos próprios filhos, mas influenciam na vida de muitas crianças que compartilham o mesmo espaço de convivência.

Portanto, um centro de educação infantil de qualidade tem a obrigação de zelar pelo bem de todos e orientar além de estratégias para garantir uma boa alimentação, oferecer dicas de quais alimentos são mais indicados, preservando assim, a saúde das crianças que estão sendo cuidadas e educadas coletivamente.

Termino por aqui lembrando que educar é um processo constante e continuo que envolve afeto e atenção e acima de tudo “o desejo de estar nesse lugar!”

Adelaide Rezende de Souza, Psicóloga na creche-escola Ladybug
Professora da Universidade Estácio de Sá, psicóloga (pela UFPA), especializada em saúde mental e desenvolvimento infantil e do adolescente (SCMRJ), com mestrado em psicologia e teoria do comportamento (UFPA) sua dissertação teve como título: “Resoluções de conflitos entre crianças através de brincadeiras de rua”. Ministra cursos sobre jogos e brinquedotecas. Consultora de instituições de educação infantil.


Referências Bibliográficas

BORBA, A. M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. Texto publicado no documento da secretaria de educação do município do Rio de Janeiro, Ensino Fundamental de nove anos. Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade, 2006.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

MELLO, S. A. O processo de aquisição da escrita na educação infantil – contribuições de Vygotsky . In GOULART, A. L., de F. e MELLO, S. A. Linguagens Infantis outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

PIOTTO, D., C., FERREIRA, M., V., e PANTONI R. V. Comer, comer... comer, comer... é o melhor para poder crescer... In ROSSETI - FERREIRA, M. C. (orgs) Os fazeres da educação infantil. SP: Cortez, 2002,

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de educação Fundamental. Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998

D. Tereza - Você sabe que o meu sobrinho já escreve o nome dele todo,
e todo dia ele faz trabalhinho de dever de casa?
D. Margarida – Ah! essa escola é boa,
vai fazer esse menino ser muito inteligente!


É comum diálogos como esse entre responsáveis de crianças que estão frequentado escolas de educação infantil. Como existem escolas com propostas sócio-interacionistas que trabalham o aprendizado através do construtivismo, isso gera muitas dúvidas em pais alfabetizados pelo método tradicional. Ao mesmo tempo, paralelamente, ainda existem algumas escolas que reproduzem métodos antigos, como por exemplo a escola representada no diálogo acima.

Afinal qual a função de um centro de educação infantil (creche e pré-escola)? Devemos pensar em aproveitar a infância das crianças para treiná-las para o futuro? Preparando-as para serem integradas no ensino fundamental? Como fazer que as crianças sejam cidadãs criativas e reflexivas dominando a língua escrita e capazes de compreender os códigos e instrumentos de nossa cultura? De acordo com a definição de Magda Soares (1998) existem diferenças entre alfabetização e letramento:

alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita. p. 47.

E assim a autora continua destacando que o primeiro termo, alfabetização, corresponderia ao processo pelo qual se adquire uma tecnologia – a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-la para ler e escrever. Para adquirir tal tecnologia é importante compreender o funcionamento do alfabeto, memorizar as convenções letra-som e dominar o seu traçado, usando instrumentos como lápis, papel ou outros que os substituam.

Enquanto que letramento relaciona-se ao exercício efetivo e competente daquela tecnologia da escrita, nas situações em que precisamos ler e produzir textos reais. É o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita.

Portanto, aquisição dos dois processos não devem ser feitas separadamente, eis aqui o grande dilema que reflete as diferenças entre os métodos utilizados em diferentes escolas. Escolas que apresentam uma proposta baseada em concepções sócio-interacionistas procuram desenvolver um processo em que a aquisição da língua escrita, não se resuma apenas a escrita de letras.

Vygotsky (in Mello,2005), importante pesquisador russo, destaca diretrizes para que a escrita se torne um instrumento de expressão e conhecimento do mundo para uma criança leitora e produtora de textos:

  • que o ensino da escrita se apresente de modo que a criança sinta necessidade dela.
  • que a escrita seja apresentada não como um ato motor, mas como uma atividade cultural complexa,
  • que a necessidade de aprender e escrever seja natural, da mesma forma como a necessidade de falar,
  • que ensinemos à criança a linguagem escrita e não as letras.

Costumo dizer que obrigar as crianças a copiar letras sem oferecê-las o significado, além de ser uma atividade sem sentido, representa para a criança em muitas ocasiões adestramento - “só sai daí quando acabar de copiar!” - com esse tipo de atitude ela aprende que o mais importante é aprender a obedecer não importa para que finalidade.

Um outro ponto importante que deve ser destacado é a respeito de quando iniciar esse processo. Segundo Mello (2005) “Vygotsky defenderia o letramento para as crianças até 6 anos, e para as crianças entre 6 e 10 anos a alfabetização com letramento”. (p.40)


Mas, surgem novas angustias, “será que meu filho estará preparado para o ensino fundamental frequentando uma escola que favorece o brincar como atividade principal?”

O letramento deve ser pensado como uma atividade que exige que a criança seja inserida em um processo cultural, em que ela domine símbolos e instrumentos de nossa sociedade, nesse sentido, não precisamos temer atrasos hipotéticos em crianças que tenham brincado bastante durante o processo de aquisição da escrita, pois possivelmente são crianças que pensam, tiveram a oportunidade de participar ativamente desse processo, ter suas ideias respeitadas e valorizadas e acreditam em si mesmas, como produtoras de conhecimento.

O brincar é uma atividade humana que por si mesma representa experiências associadas a nossa cultura, pois os brinquedos são objetos que imitam criações do homem na produção de instrumentos cotidianos como: ferro de passar, telefone, panela, fogão, carro, boneca e tantos outros.

Brincando as crianças podem representar papéis sociais e ações que na vida real não poderiam fazer, como fazer comida ou dirigir um carro. Esses são exemplos de atividades imaginárias baseadas em experiências reais que ajudam a criança a realizar pequenos ensaios sobre a realidade. Aproveitando o destaque de Borba, (2006) acho importante que façamos algumas perguntas para nós mesmos:

Como podemos compreender a criança nas suas formas próprias de ser, pensar e agir? Como vê-la como alguém que inquieta o nosso olhar, desloca nossos saberes e nos ajuda a enxergar o mundo e a nós mesmos? Como podemos ajudar a criança a se constituir como sujeito no mundo? De que forma a compreensão sobre o significado do brincar na vida e na constituição dos sujeitos situa o papel dos adultos e da escola na relação com as crianças e os adolescentes? p. 34

Para finalizar esse primeiro tema é importante destacar que pesquisas realizadas em diversos países demonstram que meninos e meninas que desde cedo escutam histórias lidas e/ou contadas por adultos, ou que brincam de ler e escrever (quando ainda não dominam o sistema de escrita alfabetizada), adquirem um conhecimento sobre a linguagem escrita e sobre os usos dos diferentes gêneros textuais, antes mesmo de estarem alfabetizadas.

Adelaide Rezende de Souza, Psicóloga na creche-escola Ladybug

Professora da Universidade Estácio de Sá, psicóloga (pela UFPA), especializada em saúde mental e desenvolvimento infantil e do adolescente (SCMRJ), com mestrado em psicologia e teoria do comportamento (UFPA) sua dissertação teve como título: “Resoluções de conflitos entre crianças através de brincadeiras de rua”. Ministra cursos sobre jogos e brinquedotecas. Consultora de instituições de educação infantil.




Fiquei motivada a escrever este depoimento por uma série de fatores: a palestra recente na escola Ladybug sobre Letramento x Alfabetização, este vídeo imperdível (parte I e parte II) encontrado por meu marido e a recente e equivocada visão da Veja sobre escolas Sócio-Construtivistas.
Estudei quase a vida toda em escolas com ensino tradicional. Lembro até hoje que no antigo CA recebia trabalhos de casa até para o período de férias. Nunca esquecerei dos cadernos de caligrafia no qual repetia inúmeras vezes letras e palavras.
Cursei ensino fundamental e ginásio numa escola tradicional, religiosa, uma das que possui maior pontuação no Enem e aprovações no vestibular. Sim, tive uma “base boa” mas acredito que esta escola causou mais danos do que benefícios na minha vida.
Sempre fui criança criativa, adorava ler, escrever, dançar e desenhar. Até hoje estas continuam sendo grandes paixões na minha vida. No entanto, a instituição jamais estimulou esta criatividade. Pelo contrário, estas atividades eram vistas como perda de tempo, distração.

Se eu gostava da escola? Sim. Adorava quando minha mãe chegava com os livros novos, adorava aprender. Se eu era boa aluna? Durante muito tempo fui uma das melhores da turma.
No entanto meu dom nunca foi para área tecnológica ou biomédica. Nunca quis fazer medicina, engenharia ou até mesmo advocacia. O meu talento era visto na escola como algo inútil, sem valor. No segundo grau me rebelei: o melhor professor de história foi levado da turma de ciências humanas para tecnológica.E nós, como aula extra, tínhamos uma aula de artes com uma professora despreparada...afinal, turma de Ciências Humanas é para quem não quer nada com estudos.
Por sorte tive pais incríveis. Meu pai com 4 anos me fez sentir um Leonardo DaVinci, um Picasso. Valorizou meus desenhos e criatividade como ninguém! Eles me proporcionaram aulas de pintura, desenho, dança. Motivaram a leitura como algo divertido, assim como a escrita. O diálogo em casa era aberto. Sempre fui contestadora e era motivada a contestar, buscar informações.
Aos poucos, fui me tornando duas crianças : se em casa era líder, criativa, alegre, na escola era fechada, turrona, tímida.
O que teria acontecido, caso não tivesse tido apoio dos meus pais? Caso não tivesse morado num local onde passava grande parte do dia brincando, livre?
Fiz desenho industrial, depois marketing, sou apaixonada por marketing digital... Herdei do meu pai um dom para atendimento só reconhecido na fase adulta. Escolhi uma carreira que envolve criatividade, inovação e conhecer as pessoas. Aptidões nunca oferecidas nas escolas onde estudei.
Sim, passei no vestibular, pude escolher minha universidade, porém me pergunto até onde teria ido caso a escola tivesse estimulado minha criatividade. Teria sido ilustradora? Virado escritora? Artista? Teria alçado voôs ainda maiores na minha escolha profissional?
Quero que meu filho tenha o que não tive: estímulo para suas aptidões, sejam quais forem. Quero ver meu filho brincar, pintar, interagir, ter espaço, se soltar, criar, crescer!
Anamaria, mãe de aluno da Ladybug da turma Maternal I